Yume Nikki - O mundo dos sonhos é mais real do que parece.

Yume Nikki é um jogo que realmente me impressionou e por isso se tornou tão difícil falar sobre ele. Para quem não sabe, Yume Nikki é mais um daqueles jogos feitos em RPG Maker, que já me provou mais de mil vezes que jogo não é só gráfico, mas também história.

Em Yume Nikki, você é Madotsuki, uma adolescente que basicamente vive no seu quarto. Se você estiver acordado e tentar sair, ela irá fazer que não com a cabeça e simplesmente não saíra, pois o jogo é baseado no mundo dos sonhos dela. O jogo só começa quando você deita na cama e, passados cinco segundos, você aparece em sua varanda, mas já no mundo alternativo dos sonhos. O objetivo do jogo é coletar todos os 24 efeitos que estão espalhados pelos diversos mundos nos sonhos da Madotsuki.

Um dos meus cenários favoritos do jogo, "City View".

Inicialmente, há doze portas, por onde você entra e acaba achando outras portas/portais e por aí vai. Acho que demorei aproximadamente uma semana para terminar completamente este jogo, e provavelmente foi o que eu mais demorei até hoje em um “simples” jogo de RPG maker. Como os mundos e os personagens não parecem ter muito sentido, a maioria das pessoas acabam criando teorias para tudo que aparece, assim como em “The Mirror Lied”, para o qual eu já fiz uma review e deixei minha teoria aqui. Acontece que Yume Nikki é diferente, de alguma forma. Não sei se isso aconteceu com todo mundo, mas o jogo simplesmente me prendeu de forma tão magnífica e forte que, enquanto eu não estava jogando, eu pensava em chegar em casa logo para poder jogar. Acabá-lo foi uma mistura de vários sentimentos diferentes, mas falarei sobre isso depois.

Madotsuki indo embora do mundo dos sonhos, deixando os efeitos para trás...

Madotsuki aparenta ser uma adolescente normal, com cabelos lisos castanhos e sempre presos em duas tranças, olhos também castanhos e sempre veste a mesma roupa: um moletom salmão com um pequeno quadriculado na frente, uma saia da mesma cor e um par de sapatos vermelhos. Até aí a semelhança comigo é grande, pois ela é exatamente igual a mim no modo de se vestir e até mesmo de pentear o cabelo quando eu estou em casa. Confesso que me identifiquei MUITO com a Madotsuki, apesar de isso parecer estranho já que ela não sai de casa e vive no quarto. Acontece que ela vive a vida que eu queria viver, de certo modo.

Muitas pessoas podem falar que Madotsuki tem algum tipo de doença mental e que a mesma é sociopata ou autista, mas eu discordo. Acho que, na verdade, ela é completamente normal e o problema está no mundo em volta dela. Ela não aparenta ter amigos e muito menos parentes, já que a sua mobília se limita a uma televisão, um vídeo game, um diário (que é onde você salva o jogo, daí o nome “Yume Nikki”, que significa “diário dos sonhos”), uma cama e um tapete. Como eu disse anteriormente, Yume Nikki sustenta muitas teorias e gostaria de falar uma delas aqui, que é exatamente a que eu acredito. Sendo o problema do mundo à sua volta e não nela mesma, Madotsuki acredita que o mundo dos sonhos é mais apreciável do que o mundo real e, por isso, ela vive 99% do seu tempo nele. Lá, ela encontra companhia que podem até ser considerados amigos e que eu interpreto como versões distorcidas da antiga realidade de Madotsuki, de quando ela ainda vivia inserida na sociedade.

Um desses exemplos é um personagem muito especial para mim, chamado Sekomumasada Sensei. Como o próprio nome já revela, ele é supostamente um professor de música pelo qual a Madotsuki provavelmente foi apaixonada quando ainda frequentava a escola, e Sekomumasada do mundo dos sonhos seria a outra versão que a menina criou para poder ficar ao seu lado. E eu acho isso simplesmente incrível e adorável e confesso que sou apaixonada por ele também. É um pouco complicado chegar até o mundo onde ele está (Sekomumasada vive numa nave onde há um piano enorme onde deveria ficar os controles), mas vale completamente a pena. Acontece que ele fica sempre parado em uma parte específica do piano e a tecla na qual ele está na frente é exatamente aquela que abre a porta da nave. Basicamente, quando você entra na nave dele, você deve deitar na cama que tem no suposto quarto de lá e esperar até que a nave “caia” em Marte. Daí, seria a parte em que você aperta a tecla para abrir a porta. Lembra dos efeitos que eu falei lá no começo? Então, um dos efeitos é “Knife”, no qual você pode usar uma faca nos seres do mundo dos sonhos. Pelo que eu vi, muitas pessoas decidiram esfaquear o Sekomumasada Sensei (Pecado!) para apertar o botão, mas você pode simplesmente “chamá-lo” com um outro efeito chamado “Cat”, que faz você ter orelhinhas e miar.

Madotsuki com o efeito "Cat" e Sekomumasada Sensei

“Lorena, deixa de lenga lenga só por causa de um jogo e vai ao que interessa!”

Ok, ok, eu sei que eu estou enrolando, mas eu avisei que o post seria longo e por isso demorei muito tempo para escrever ele. Não há como descrever a sensação de jogar Yume Nikki, é simplesmente magnífico. A Madotsuki me passa uma calma inimaginável, e a serenidade dela me contagia por algum motivo aleatório. Poniko é outro personagem do jogo, uma adolescente que nem Madotsuki, que tem cabelos loiros presos em um rabo de cavalo e olhos verdes. Interpreto ela como o ideal da Madotsuki, como quem ela queria ser, diferente do que ela realmente é. E o fato de ter aquele puta susto do Uboa me fez pensar que talvez a Madotsuki soubesse que, se ela virasse uma pessoa que nem a Poniko, ela acabaria desfigurada “por dentro” como se fosse um Uboa.

Outro personagem é o Shitaisan, que é o garoto morto na estrada, de onde você pega o efeito do semáforo. Como eu disse, acho que todos os personagens tem alguma ligação com o mundo já não tão real da protagonista, então ele seria exatamente o que ele é: um garoto importante para Madotsuki que morreu em um acidente de carro. E por assim vai, pois é muito fácil fazer as ligações e conectar os pontos. Monoko? Amiga de Madotsuki morta atropelada por um trem, e por isso os “membros” extras. Afinal, nunca repararam que eles parecem “ossos” saindo do corpo dela? Além disso, há a Monoe, suposta irmã da Monoko que aparenta ser um pouco louca e ter um distúrbio de personalidade. Não está mais do que óbvio que essa loucura deriva do que aconteceu com a irmã? A mesma coisa para as Toriningen, que são pessoas com bicos de passarinhos e que, quando esfaqueadas, ficam “loucas”. Não está mais do que óbvio que, no suposto mundo real, ela foram assassinadas?

Monoe e Monoko, respectivamente.

Há também muitas teorias (que eu não considero teorias, já que é mais do que óbvio) de que o jogo é ligado aos Maias e várias tribos. Isso é macacamente óbvio e é exposto durante todo o jogo, onde aparecem figuras de desenhos aleatórios em todos os cantos: em pinturas que te dão minis ataques cardíacos, no fundo de alguns mundos que tem o plano preto e até mesmo no tapete do quarto da Madotsuki. O que todos esses símbolos significam? Boa pergunta, leitor.

Bom, voltando ao que eu ia falar sobre minha teoria, é basicamente esta: Os efeitos seriam as formas que Madotsuki estava/tinha tentado se encaixar em alguma espécie de grupo, para conseguir se inserir na sociedade de algum modo. Cada efeito faz alguma coisa, mas tem alguns que são quase completamente inúteis, como o efeito “Blonde Hair” e o efeito “Brown Hair”, nos quais, como o próprio nome já diz, seu cabelo fica loiro ou castanho e longo. Acho que o jogo deixa mais que óbvio que essa é a interpretação que deve ser tomada dos efeitos. Ou não.

Seguindo essa teoria, o mundo dos sonhos é um mundo aconchegante para Madotsuki, onde ela pode ser ela mesma (apesar dos efeitos também estarem lá). Existem alguns mundos que eu considerei muito agradáveis, como o 8-bit World, e outros que eu me arrepio só de pensar neles, como o Candle World. Agora vamos para a parte mais chocante: o final do jogo. AVISO: A PARTIR DE AGORA O TEXTO IRÁ CONTER SPOILERS DE FORMA HARD, ENTÃO SE VOCÊ PRETENDE JOGAR, NÃO LEIA.

Então você está lá, todo empolgado com o jogo, super feliz coletando os seus efeitos e indo visitar o Sekomumasada de vez em quando para matar a saudade, quando você finalmente percebe que já tem os 24 efeitos. E agora? O que eu faço da vida? Basicamente, você deve deixar todos os efeitos em forma de “ovo” no Nexus (que na verdade é o “saguão” onde tem as portas inicias) e então acordar, se não me engano. Você dá uma rodada no seu quarto, vai na varanda para ver se tem alguma mudança significativa e ela está lá. Uma escadinha pequena e aparentemente inocente encostada no lado esquerdo da sua varanda. Wow, um item novo! O que será que é? E na sua maior inocência, você vai lá e clica na escada. Madotsuki sobe na escada. E então, ela pula. Tela preta. Créditos do jogo passando e você se perguntando o que aconteceu. Ao lado dos créditos, uma marca de sangue com os mesmos monstrinhos com os quais você pegou os efeitos de “Brown Hair” e “Blonde Hair”. Créditos continuam rolando. Fundo musical sereno, como a trilha sonora que tem quase no jogo inteiro. Tela preta. Tela preta. De repente, sua visão fica embaçada. O que são, o que são? Isso mesmo, lágrimas.

Eu chorei no final de Yume Nikki e não me sinto envergonhada disso. Muitas pessoas dizem que foi um final sem sal, sem emoção e que não teve nada de especial no jogo, que ele é chato. Se eu tivesse o efeito “Knife”, mataria todo mundo que já vi falando isso. Se você reparar de verdade, Madotsuki não fala durante nenhuma parte do jogo, e mesmo assim você consegue se apegar a ela. Consegue perceber seu conforto no mundo dos sonhos, diferente do que ela aparenta ter no mundo real. Ninguém sabe o real motivo desse final: Será que ela achou que ainda estava no mundo dos sonhos e se jogou? Será que ela realmente queria se suicidar? Eu acho que nem um e nem outro. Minha interpretação do jogo é completamente diferente da usual, e acho que isso se deve ao fato de eu ter me identificado tanto com a personagem e assim, consigo entender ela.

"Those things...they don't get out of my head!"

Madotsuki não cometeu suicídio, e ela também não se enganou. Nada era real no jogo, desde o começo. Não sei se muitas pessoas chegaram a pensar nisso realmente, ou passaram o jogo todo focados em achar os efeitos e acabar logo aquele jogo monótono. Se prestasse atenção nos detalhes, se realmente se importasse no que estava/iria acontecer com a Madotsuki, as pistas estariam todas na cara. Ela não estava nos mundo dos sonhos quando ela ia para cama, e também não estava no mundo real quando acordava. Os efeitos, sim, eram tentativas de se encaixar no mundo real que já não existia mais para a protagonista. Acontece que o mundo real também não era o mundo real. Quando você acorda dando um beliscão na sua bochecha, você nunca percebeu que você continua com o dinheiro que você conseguiu no mundo dos sonhos? Porque isso aconteceria, se você tinha voltado pro mundo real? 

Sem contar que a trilha sonora do jogo é ótima. Os efeitos audiovisuais também, e isso tudo forma um conjunto muito especial de sentimentos que o jogo realmente consegue passar para o jogador sem nenhum problema. Um bom exemplo é a música tema da save screen (a tela onde você salva o jogo, que seria seu Yume Nikki), que eu deixarei abaixo para vocês desfrutarem.

De qualquer modo, acho que o texto já se prolongou mais do que o esperado e acho que pouquíssima gente vai chegar nessa parte.

Ah, essa maldita escadinha...

Por fim, espero que vocês tenham gostado do texto e deem sua opinião nos comentários. Também gostaria de saber se vocês concordam comigo, e se não, digam qual a sua teoria, seja ela de outra pessoa ou que você mesmo criou. É muito significativo pra mim saber que outras pessoas já jogaram e gostaram tanto deste jogo como eu. Obrigada por lerem o nosso blog e continuem por aqui. Goodbye. <3